"Vivo da floresta, protejo ela de todo o jeito, por isso vivo com a bala na cabeça a qualquer hora, porque vou para cima, eu denuncio. Quando vejo uma árvore em cima do caminhão indo para uma serraria me dá uma dor. É como o cortejo fúnebre levando o ente mais querido que você tem, porque isso é vida para mim que vivo na floresta e para vocês também que vivem nos centros urbanos."

Zé Claudio, assassinado em maio de 2011.



sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Por que os orgânicos são tão caros? Por Claudia Visoni

Artigo esclarecedor de Claudia Visoni que aponta algumas razões que determinam os preços, muitas vezes salgados, dos produtos orgânicos e agroecológicos. Publicado originalmente no blog da autora e recentemente, também, no Portal Ecodebate.
 
Por que os orgânicos são tão caros?
Claudia Visoni
 
8 fatores explicam o preço mais alto dos alimentos sem agrotóxicos. E nada explica o conformismo diante do alto custo ambiental, social e de saúde pública que vem de brinde com a agricultura baseada em aditivos químicos.
 
Ninguém, em sã consciência, prefere comida com agrotóxico, mas os orgânicos no Brasil ainda são bem mais caros, o que deixa muita gente inconformada. Outro dia assisti a uma ótima palestra do agrônomo e pesquisador Wilson Tivelli, da Estação Experimental São Roque (ligada à Secretaria Estadual da Agricultura), que explicou brilhantemente essa questão. Aí vai um resumo dos argumentos de Tivelli (veja o artigo original aqui: http://www.aptaregional.sp.gov.br/index.php/component/docman/doc_view/1182-organicos-sao-caros-por-que?Itemid=275) misturados com o que aprendi sobre o assunto nos últimos tempos.
 
1 – Eles demoram mais para amadurecerA agricultura orgânica consegue nível semelhante de produção por metro quadrado à da lavoura que usa adubos artificiais e agrotóxicos. No entanto, os alimentos se desenvolvem mais devagar. A cenoura orgânica, por exemplo, é colhida por volta de 116 dias após a semeadura enquanto a versão com aditivos químicos fica pronta em 97 dias. Ou seja, a safra ocupa a terra por mais tempo. E tempo é dinheiro.
Por outro lado, essa desvantagem comercial torna os orgânicos mais nutritivos e saborosos, pois vão extraindo da terra nutrientes mais variados e em maior quantidade. Enquanto os vegetais cultivados à base de compostos químicos sintéticos recebem basicamente apenas três macronutrientes -nitrogênio (N), fósforo (P) e potássio (K) - os adubos orgânicos oferecem toda uma tabela periódica em sua lista de ingredientes.
 
2 – CertificaçãoPor incrível que pareça, não há fiscalização obrigatória nas lavouras que usam agrotóxicos. Os abusos, ultrafrequentes, são descobertos pela ANVISA (Agência de Vigilância Sanitária) apenas ao recolher amostras de alimentos em supermercados. Para sentir o drama, é só clicar nesse link: http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,pimentao-e-o-campeao-do-agrotoxico-mostra-estudo-da-anvisa,355203,0.htm.
Já o produto orgânico precisa ser certificado. Ou seja, o produtor deve arcar com a auditoria anual de sua propriedade, o que custa em média cerca de R$ 3 mil. Existem outras formas de certificação por meio de cooperativas que, embora sem custo fixo, demandam bastante tempo e dedicação, desviando o agricultor de sua função principal.
 
3 – Período de conversãoUm agricultor convencional que resolve virar orgânico passará por um tempo de vacas magras, pois sua terra está “viciada” em produtos químicos e não é fácil recompor a fertilidade utilizando recursos naturais. Durante essa fase, não há nenhum tipo de financiamento governamental que permita ao produtor sobreviver até conseguir safras melhores. No campo, essa talvez seja a principal barreira à adoção do sistema orgânico. Ou seja, existe muita gente querendo sair do esquema convencional, mas não consegue por razões financeiras de curto prazo.
 
4 – Falta de créditoNo Brasil não existem linhas de finaciamento voltadas para a agroecologia. Parece mentira, mas para conseguir liberação de dinheiro no banco, o produtor precisa mostrar a nota fiscal comprovando que adquiriu agrotóxicos. Veja com seus próprios olhos o depoimento deles no documentário “O Veneno está na Mesa”, de Silvio Tendler, e aproveite para ampliar seus conhecimentos sobre o tema. O filme está totalmente livre para cópia e veiculação: http://www.youtube.com/watch?v=8RVAgD44AGg.
 
5 - Barreira de isolamentoDe acordo com a legislação atual, quem usa substâncias potencialmente tóxicas na lavoura não precisa se preocupar com os resíduos que deixa na atmosfera, na água e no solo, além de estar isento de responsabilidade caso seja comprovada a contaminação de um trabalhador. Para completar, nada o impede de borrifar agrotóxicos até o limite de sua propriedade, mesmo sabendo que a pulverização invadirá o território alheio.
Já o produtor orgânico precisa manter uma faixa de vegetação robusta e alta para isolar seu cultivo da química dos vizinhos. Ou seja, uma parte de sua propriedade não pode ser utilizada para plantar alimentos, o que reduz a produtividade.
 
6 - Menor escala de produçãoO agronegócio convencional privilegia a monocultura. Assim, terrenos imensos são ocupados por uma única espécie (algo muito atraente para pragas e doenças, pois, quando o invasor encontra esse farto banquete, se dissemina em altíssima velocidade). No sistema orgânico dá-se preferência ao plantio conjunto de várias espécies vegetais e ao consórcio com a criação animal. Desse modo, é mais rica a produção interna de adubo (feito com esterco e sobras vegetais) e mais eficiente o controle das espécies indesejáveis.
No entanto, uma propriedade com vários cultivos emprega maior número de trabalhadores e há menor possibilidade de mecanização. Outro complicador do ponto de vista comercial é que, ao ter quantidades pequenas de diferentes produtos para oferecer ao mercado, o produtor orgânico perde poder de barganha.
Um detalhe, porém, não deve ser esquecido: do ponto de vista socioambiental, essas aparentes desvantagens são muito positivas.
 
7 – Ganância dos supermercadosGrandes varejistas investem bastante em pesquisas sobre hábitos de consumo e logo descobriram que as pessoas com maior poder aquisitivo e nível de instrução são as que mais consomem orgânicos. Encontraram aí uma excelente oportunidade de inflar preços e foi o que fizeram. Uma pesquisa do Idec (Instituto de Defesa do Consumidor) realizada em 2010 flagrou uma diferença de preços de até 463% num mesmo produto orgânico (http://www.idec.org.br/em-acao/revista/142/materia/quer-pagar-quanto). Para quem busca alimentos sem veneno por preço em conta, as feiras de orgânicos são a melhor alternativa (procure aqui: http://www.slowfoodbrasil.com/textos/noticias-slow-food/504-voce-conhece-as-feiras-organicas-da-sua-cidade), seguidas pelos esquemas delivery (para saber mais sobre essa opção: http://conectarcomunicacao.com.br/blog/98-diga-adeus-aos-agrotxicos/.).
 
8 – Falta de assistência técnica e pesquisaAntigamente existiam no país as redes de assistência rural financiadas pelo governo. Aos poucos, o poder público foi abandonando essa importante função e deixou o espaço livre para os fabricantes e revendedores de adubos sintéticos e agrotóxicos. Assim, quem dá orientações técnicas aos agricultores hoje em dia são os vendedores dessas fórmulas. Claro que eles não têm interesse nenhum em ajudar quem não consome seus produtos. Além disso, nas faculdades de agronomia predomina o ensino da agricultura baseada em insumos químicos, gerando carência de profissionais que sabem cultivar a terra sem apelar para eles. Para complicar de vez a situação da agroecologia, entidades como a FAPESP, o CNPQ e a CAPES não costumam liberar bolsas de estudos para quem se propõe a estudar agricultura orgânica e familiar.
 
Com tudo isso, dá para ver que os alimentos convencionais, aparentemente mais baratos, na verdade saem muito caro. Em seu preço não estão computados:
  • O custo social representado pelo abandono do campo e inchaço das periferias urbanas;
  • O custo em termos de saúde pública que tem origem no enorme número de pessoas intoxicadas pelos agrotóxicos, seja de forma aguda ou crônica (câncer, doenças neurológicas e endócrinas entre outras);
  • O custo ambiental devido à contaminação química do ar, da água e do solo, à perda da fertilidade do solo e da biodiversidade.
Do dia para a noite não haverá solução mágica para levar orgânicos baratos à mesa de todos os brasileiros. Mas já existem esquemas alternativos e mais acessíveis para adquiri-los (veja acima o exemplo do delivery e das feiras orgânicas) e outros virão por aí.
 
A gente pode e deve brigar para virar esse jogo. Temos o direito de exigir que o dinheiro público seja investido num modelo agrícola mais justo e sustentável, em vez de virar subsídio para os agrotóxicos, que, aliás, têm isenção de impostos!
 
Claudia Visoni é jornalista, paulistana e dirige a empresa Conectar Comunicação (www.conectar.com.br). Desde a adolescência, pesquisa assuntos ligados à ecologia e ao consumo, buscando alternativas para viver bem economizando os recursos naturais

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

A evolução da horta

Desde a postagem sobre a minha horta, as coisas evoluiram muito por aqui. Evoluiram porque eu consegui aprender com os muitos erros e a natureza é mágica e autosuficiente.

araça florindo no vaso
 
Nesse mais de um ano depois perdi várias mudas, recuperei outras, descobri outras e principalmente: a maior parte germinou espontâneamente. Com certeza mais da metade do que tenho plantado hoje é fruto do meu consumo. E esse é um dos motivos que me faz buscar opções nativas e orgânicas, mas nem sempre isso é possível.

citronela: já replantei em vários vasinhos, distribui pela casa, estrategicamente e ainda doei algumas mudas e o pé segue firme e forte
 
Durante esse período perdi um pé de bananeira, meu agrião foi devastado por lagarta em 2 dias, fiz centenas de saladas e sucos verdes só com as folhas do quintal. Já colhi e comi beterrabas, batatas, cenouras, couve, agrião, catalonha, alface, rúcula, manjericão, alecrim, arruda, salsinha, cebolinha, coentro e agora estou prestes a colher os primeiros tomates.

tomates
 
A compostagem é um rico viveiro de mudas. E isto é óbvio. Quando dei por mim tinha mais de 8 pés de tomate. Milhos brotaram. Já plantei abacateiros em vários lugares e doei umas mudas. E ainda tenho outras em casa. O araça adorou o sol da manhã e já está florindo. Inhames brotam no cesto de legumes, assim como o cará, me arrependi de não ter fotográfado. Beterrabas e cenouras, assim como faço com o inhame, cortei a tampinha e coloquei no chão, encaixadas na terra. Abóboras nascem com uma facilidade imensa. São muitas folhas e nascem flores todos os dias. Mas perdi meu pé, antes da abóbora vingar. Crescem agora os que nasceram na compostagem.

as flores de abóbora
 
couve


abacaxi




Em breve mais fotos e mais evolução da horta!!
 

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

KÁTIA, A ANTROPÓLOGA, CRIADORA DA ABREUGRAFIA por José Ribamar Bessa Freire

Imperdível crônica de José Ribamar Bessa Freire, publicada aqui,  sobre a miss desmatamento e seus devaneios como escritora e antropóloga.

KÁTIA, A ANTROPÓLOGA, CRIADORA DA ABREUGRAFIA


Nelson Rodrigues só se deslumbrou com "a psicóloga da PUC" porque não conheceu "a antropóloga da Folha". Mas ela existe. É a Kátia Abreu. É ela quem diz aos leitores da Folha de São Paulo, com muita autoridade, quem é índio no Brasil. É ela quem religiosamente, todos os sábados, em sua coluna, nos explica como vivem os "nossos aborígenes". É ela quem nos ensina sobre a organização social, a distribuição espacial e o modo de viver deles.
Podeis obtemperar que o caderno Mercado, onde a coluna é publicada, não é lugar adequado para esse tipo de reflexão e eu vos respondo que não é pecado se aproveitar das brechas da mídia. Mesmo dentro do mercado, a autora conseguiu discorrer sobre a temática indígena, não se intimidou nem sequer diante de algo tão complexo como a estrutura de parentesco e teorizou sobre "aborigenidade", ou seja, a identidade dos "silvícolas" que constitui o foco central de sua - digamos assim - linha de pesquisa.
A maior contribuição da antropóloga da Folha talvez tenha sido justamente a recuperação que fez de categorias como "sílvicola" e "aborígene", muito usadas no período colonial, mas lamentavelmente já esquecidas por seus colegas de ofício. Desencavá-las foi um trabalho de arqueologia num sambaqui conceitual, que demonstrou, afinal, que um conceito nunca morre, permanece como a bela adormecida à espera de alguém que o desperte com um beijo. Não precisa nem reciclá-lo. Foi o que Kátia Abreu fez.
Com tal ferramenta inovadora, ela estabeleceu as linhas de uma nova política indigenista, depois de fulminar e demolir aquilo que chama de "antropologia imóvel" que seria praticada pela Funai. Sua abordagem vai além do estudo sobre a relação observador-observado na pesquisa antropológica, não se limitando a ver como índios observam antropólogos, mas como quem está de fora observa os antropólogos sendo observados pelos índios. Não sei se me faço entender. Mas em inglês seria algo assim como Observing Observers Observed.
Os argonautas do Gurupi
Todo esse esforço de abstração desaguou na criação de um modelo teórico, a partir do qual Kátia Abreu sistematizou um ousado método etnográfico conhecido como abreugrafia que, nos anos 1940, não passava de um prosaico exame de raios X do tórax, uma técnica de tirar chapa radiográfica do pulmão para diagnosticar a tuberculose, mas que foi ressignificado. Hoje, abreugrafia é a descrição etnográfica feita com o método inventado por Kátia Abreu, no caso uma espécie de raio X das sociedades indígenas.
Esse método de coleta e registro de dados foi empregado na elaboração dos três últimos artigos assinados pela antropóloga da Folha: Uma antropologia imóvel (17/11), A Tragédia da Funai (03/11/) e Até abuso tem limite (27/10) que bem mereciam ser editados, com outros, num livro intitulado "Os argonautas do Gurupi". São textos imperdíveis, que deviam ser leitura obrigatória de todo estudante que se inicia nos mistérios da antropologia. A etnografia refinada e apurada que daí resulta quebrou paradigmas e provocou uma ruptura epistemológica ao ponto de não-retorno.
A antropóloga da Folha aplicou aqui seu método revolucionário - a abreugrafia - que substituiu o tradicional trabalho de campo, tornando caducas as contribuições de Boas e Malinowski. Até então, para estudar as microssociedades não ocidentais, o antropólogo ia conviver lá, com os nativos, tinha de "viver na lama também, comendo a mesma comida, bebendo a mesma bebida, respirando o mesmo ar" da sociedade estudada, numa convivência prolongada e profunda com ela, como em 'Lama', interpretada por Núbia Lafayette ou Maria Bethania.
A abreugrafia acabou com essas presepadas. Nada de cantoria. Nada de anthropological blues. Agora, o antropólogo já não precisa se deslocar para sítios longínquos, nem viver um ano a quatro mil metros de altura, numa pequena comunidade nos Andes, comendo carne de lhama, ou se internar nas selvas amazônicas entre os huitoto, como fez um casal de amigos meus. E tem ainda uma vantagem adicional: com a abreugrafia, os antropólogos nunca mais serão observados pelos índios.
Em que consiste, afinal, esse método que dispensa o trabalho de campo? É simples. Para conhecer os índios, basta tão somente pagar entrevistadores terceirizados. Foi o que fez a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) que, por acaso, é presidida por Kátia Abreu. A CNA encomendou pesquisa ao Datafolha que, por acaso, pertence à empresa dona do jornal onde, por acaso, escreve Kátia. Está tudo em casa. Por acaso.
Terra à vista
Os pesquisadores contratados, sempre viajando em duplas - um homem e uma mulher - realizaram 1.222 entrevistas em 32 aldeias com cem habitantes ou mais, em todas as regiões do país. Os resultados mostram que 63% dos índios têm televisão, 37% tem aparelho de DVD, 51% geladeira, 66% fogão a gás e 36% telefone celular. "A margem de erro" - rejubila-se o Datafolha - "é de três pontos percentuais para mais ou para menos".
"Eu não disse! Bem que eu dizia" - repetiu Kátia Abreu no seu último artigo, no qual gritou "terra à vista", com o tom de quem acaba de descobrir o Brasil. O acesso dos índios aos eletrodomésticos foi exibido por ela como a prova de que os "silvícolas" já estão integrados ao modo de vida urbano, ao contrário do que pretende a Funai, com sua "antropologia imóvel" que "busca eternizar os povos indígenas como primitivos e personagens simbólicos da vida simples". A antropóloga da Folha, filiada à corrente da "antropologia móvel", seja lá o que isso signifique, concluiu:
- "Nossos tupis-guaranis, por exemplo, são estudados há tanto tempo quanto os astecas e os incas, mas a ilusão de que eles, em seus sonhos e seus desejos, estão parados, não resiste a meia hora de conversa com qualquer um dos seus descendentes atuais".
Antropólogos da velha guarda que persistem em fazer trabalho de campo alegam que Kátia Abreu, além de nunca ter conversado sequer um minuto com um índio, arrombou portas que já estavam abertas. Qualquer aluno de antropologia sabe que as culturas indígenas não estão congeladas, pois vivem em diálogo com as culturas do entorno. Para a velha guarda, Kátia Abreu cometeu o erro dos geocêntricos, pensando que os outros estão imóveis e ela em movimento, quando quem está parada no tempo é ela, incapaz de perceber que não é o sol que dá voltas diárias em torno da terra.
No seu artigo, a antropóloga da Folha lamenta que os índios "continuem morrendo de diarreia". Segundo ela, isso acontece, não porque os rios estejam poluídos pelo agronegócio, mas "porque seus tutores não lhes ensinaram que a água de beber deve ser fervida". Esses tutores representados pela FUNAI - escreve ela - são responsáveis por manter os índios "numa situação de extrema pobreza, como brasileiros pobres". Numa afirmação cuja margem de erro é de 3% para mais ou para menos, ela conclui que os índios não precisam de tutela.
- Quem precisa de tutela intelectual é Kátia Abreu - retrucam os antropólogos invejosos da velha guarda, que desconhecem a abreugrafia. Eles contestam a pobreza dos índios, citando Marshall Sahlins através de postagem feita no facebook por Eduardo Viveiros de Castro:
‎"Os povos mais 'primitivos' do mundo tem poucas posses, mas eles não são pobres. Pobreza não é uma questão de se ter uma pequena quantidade de bens, nem é simplesmente uma relação entre meios e fins. A pobreza é, acima de tudo, uma relação entre pessoas. Ela é um estatuto social. Enquanto tal, a pobreza é uma invenção da civilização. Ela emergiu com a civilização..."
Miss Desmatamento

A conclusão mais importante que a antropóloga da Folha retira das pesquisas realizadas com a abreugrafia é de que os "aborígenes", já modernizados, não precisam de terras que, aliás, segundo a pesquisa, é uma preocupação secundária dos índios, evidentemente com uma margem de erro de três pontos para mais ou para menos.
- "Reduzir o índio à terra é o mesmo que continuar a querer e imaginá-lo nu" - escreve a antropóloga da Folha, que não quer ver o índio nu em seu território. "Falar em terra é tirar o foco da realidade e justificar a inoperância do poder público. O índio hoje reclama da falta de assistência médica, de remédio, de escola, de meios e instrumentos para tirar o sustento de suas terras. Mais chão não dá a ele a dignidade que lhe é subtraída pela falta de estrutura sanitária, de capacitação técnica e até mesmo de investimentos para o cultivo".
A autora sustenta que não é de terra, mas de fossas sépticas e de privadas que o índio precisa. Demarcar terras indígenas, para ela, significa aumentar os conflitos na área, porque "ocorre aí uma expropriação criminosa de terras produtivas, e o fazendeiro, desesperado, tem que abandonar a propriedade com uma mão na frente e outra atrás".
Ficamos, então, assim combinados: os índios não precisam de terra, quem precisa são os fazendeiros, os pecuaristas e o agronegócio. Dados apresentados pela jornalista Verenilde Pereira mostram que na área Guarani Kaiowá existem 20 milhões de cabeças de gado que dispõem de 3 a 5 hectares por cabeça, enquanto cada índio não chega a ocupar um hectare.
Um discípulo menor de Kátia Abreu, Luiz Felipe Pondé, também articulista da Folha, tem feito enorme esforço para acompanhar a produção intelectual de sua mestra, usando as técnicas da abreugrafia, sem sucesso, como mostra artigo por ele publicado com o título Guarani Kaiowá de boutique (9/11), onde tenta debochar da solidariedade recente aos Kaiowá que explodiu nas redes sociais.

Kátia Regina de Abreu, 50 anos, empresária, pecuarista e senadora pelo Tocantins (ex-DEM,atual PSD), não é apenas antropóloga da Folha. É também psicóloga formada pela PUC de Goiás, reunindo dois perfis que deslumbrariam Nelson Rodrigues.

Bartolomé De las Casas, reconhecido defensor dos índios no século XVI, contesta o discurso do cronista do rei, Gonzalo Fernandez de Oviedo, questionando sua objetividade pelo lugar que ele ocupa no sistema econômico colonial:
- “Se na capa do livro de Oviedo estivesse escrito que seu autor era conquistador, explorador e matador de índios e ainda inimigo cruel deles, pouco crédito e autoridade sua história teria entre os cristãos inteligentes e sensíveis”.
O que é que nós podemos escrever na capa do livro "Os Argonautas do Gurupi" de Kátia Abreu, eleita pelo movimento ambientalista como Miss Desmatamento? Que crédito e autoridade tem ela para emitir juízos sobre os índios? O que diriam os cristão inteligentes e sensíveis contemporâneos? Respostas em cartas à redação, com a margem de erro de 3% para mais ou para menos.

 

domingo, 4 de novembro de 2012

Então, é Natal???

Estamos no comecinho de novembro, mas estabelecimentos comerciais de cada esquina já fazem alarde sobre o Natal. Os panetones já repletam as prateleiras e cada setor quer disputar seus centavos a todo custo.

Eu já cansei de citar nesse blog, que datas comemorativas nunca me agradaram. Não me animam, nem me bastam. "Mas que sujeito chato sou eu, que não acha nada engraçado, macaco, praia, carro, jornal, tobogã...Eu acho tudo isso um saco!"

E o holocausto animal representado por datas como essa


Além dessa minha implicância nata, toda essa publicidade e idolatria ao consumo, me irritam. Os significados das datas são descartados e o que vale em cada época é o cartão de crédito.

Cada qual sabe de sua vida e suas preferências. Comemore o que você bem quiser ao lado de quem você ama, mas deixe de lado todo esse louvor ao capitalismo.

Está circulando no facebook  uma mensagem sucinta, parecida com minha postagem de "Natal" do ano passado. Incentivando as pessoas a buscarem alternativas de presentes que fortaleçam o mercado autônomo, regional. Boicotemos as grandes marcas, sim! Pelo bem do próximo, inclusive. E o bem do próximo é umas das recomendações natalinas, não é?

Releiam também a preciosa crônica de Rubem Alves sobre o Natal, antes de comprometer as contas e se endividar pelo resto de 2013 com o êxtase natalino.

E o Natal ainda está longe. Aproveite os lindos dia de primavera de novembro, o sol e o calor. Tudo de graça! Porque dá sim para ser feliz, sem gastar nem R$1,00!!!



sábado, 3 de novembro de 2012

Brotos, finalmente, eu os tenho!!

Admito que já estava desistindo dessa tarefa simples, que para mim parecia impossível. Já havia tentado de várias formas, de acordo com várias dicas, livros e blogs diferentes. Falhei em todas. Mesmo com o melhor passo a passo disponível na internet, na minha opinião (lá do blog Come-se, da Neide Rigo  que consegue cultivá-los até em garrafa pet). Por lá, ela sugere inúmeras possibilidades e indica os melhores grãos.
 
Eu já tinha tentado em pote de vidro - que nunca faltam aqui em casa, já que são meus organizadores de grãos  -  cobertos com uma telinha e elástico. Não deu certo.
 
 
 
Até que olhando para um pote de plástico guardado junto com outros potinhos, que eu sempre penso que podem ser úteis, achei a solução. Fiz furinhos embaixo para escoar a água e encima para ventilar.
 
 
 
Estamos no 4º dia e os brotinhos da lentilha já sorriem para mim.
 
 
 
Agora é esperar mais um pouquinho, para que cresçam mais e jogar na panela com shoyo...(estou aguada de vontade. Num sanduíche natural de verdade com folhas frescas, legumes e alguma pasta, pode ficar delicioso também).
 
Agora é partir para outros grãos e esperar pelos resultados!
 
Sei que os brotos são vendidos em mercados, mas os preços não me agradam. E sou daquelas que se posso fazer em casa...eu boicoto mesmo qualquer industrializado.
 
Para os bons resultados, basta lavar umas 3 vezes ao dia, sem deixar a água acumular. Se houver odor, descarte, significa que não vai dar certo. Jogue na compostagem, que provavelmente eles vão vingar em pesinhos.
 
Boa dica também para professores e educadores. Uma boa experiência para fazer com a criançada!!




sábado, 13 de outubro de 2012

Dia das Crianças: outras reflexões

Dia das crianças, mais uma data comemorativa que promete aquecer o mercado e endividar famílias pelo resto do ano e por todo o ano que vem. Quem costuma visitar este blog sabe bem que eu não sou um exemplar muito fiel da espécie humana. Abomino rituais, cerimônias e grande parte dos eventos sociais mais comuns. E dia de qualquer coisa para mim...é simplesmente mais um dia dos 365 do ano, incluindo meu aniversário.
 
 

Com o dia das crianças, assim como Natal, dia dos namorados e bla bla bla, não seria diferente. Mas tenho dois filhos, que apesar de viverem sob meu teto e minhas convicções, sofrem influências externas o tempo todo, de pessoas tão viciadas no capitalismo e consumismo, quanto se é possível. Não sou xiita integralmente, não acho que eles devam abraçar meus ideias severamente agora no primeiro ciclo da infância, mas ainda assim, acaba sendo natural para eles valorizar outras coisas e não apenas presentes comprados.

Por aqui costumamos plantar árvores para comemorar os aniversários. E ultimamente temos preferido fazer passeios, no lugar de festas. Eu também quero organizar uma festinha no Portinho, que é um lugar lindo, cheio de árvores, onde as crianças podem literalmente se esbaldar.

Nesta, nesta e nesta postagem deste blog já havia abordado o tema consumismo, com dicas práticas e esta postagem de hoje complementa as demais.

O movimento Infância Livre do Consumismo é uma iniciativa mega legal de um gupo de mães organizadas que busca a regulamentação da propaganda infantil, além de abordar questões e sugerir reflexões acerca de temas relacionados.

Em várias cidades do Brasil já acontecem feiras de troca de brinquedos. Uma iniciativa bem bacana, já que as crianças podem interagir, enquanto aprendem sobre o despreendimento.
 
Criança gosta mesmo é de brincar! De preferência a céu aberto, respirando ar fresco e tomando sol. Aos pais e familiares cabe essa grande responsabilidade: a de oferecer momentos assim. E vivendo nesse nosso tempo estranho, onde a maioria trabalha mais de 8 horas por dia e as escolas, já nos primeiros anos, importam-se mais com o futuro vestibular do que com a formação do cidadão, fica realmente bem difícil crescer.
 
Criança para ser feliz precisa de amor, atenção, orientação, limites. Precisa correr, aprender, desbravar. Precisa de amigos, ter contato com pessoas de todos os tipos, ter contato com a natureza, com os animais, com a terra. Precisa ser livre para criar. Criança precisa viver!
 
Passeios ao shopping, eletrônicos de última geração, brinquedos caríssimos e zelo demais, definitivamente não fazem parte de uma infância feliz.
 
Para atrapalhar um pouco mais, a publicidade infantil é invasiva, esmagadora e insana. Está em todos os canais de televisão, mesmo os pagos. Em cada atração infantil, em cada programa. Faz com que os ricos sempre queiram mais e os pobres queiram o que não poderão ter. É angustiante e deprimente!

Essa questão passa por outra: quantas horas por dia seu filho passa, em frente a uma tela (seja a de um computador ou da TV)??? A TV é uma grande aliada das mães, já que aliena e hipnotiza a criança, que prostrada no sofá, não há de atrapalhar a mãe em suas tarefas diárias (intermináveis).

Não acho que a TV e a propaganda são aos maiores vilãs do mundo. Meus filhos assistem TV, mas por aqui a tela mágica é sempre a última opção. É uma escolha deles, eles sempre preferem brincar. A TV por aqui funciona  mais em dia chuvosos, para assistir a um filme que eles querem muito ver, ou algum ou outro programa preferido. De resto eles passam longe e eu morro de orgulho!

Permita que seus filhos brinquem com tinta, com a terra, deixe que pisem no chão descalços, que subam em árvores, que corram. Deixe que eles te ajudem na cozinha, na escolha dos alimentos. Leia para seus filhos, sobrinhos, afilhados, netos...

Porque são nesses momentos que podemos reforçar que o SER sempre será mais importante que o TER!!! E que as melhores coisas da vida, realmente, não são coisas!!!
 
E é sempre bom lembrar que animais, de nenhum tipo, deveriam ser classificados como mercadoria. Pássaros engaiolados são a representação máxima do egoísmo e eu acredito que não é isso que os pais devam ensinar a seus filhos. Se a criança já vem pedindo um bichinho de estimação, aproveite essa chance para ensinar bons valores. Se você estiver disposto a assumir a responsabilidade de cuidar de outra vida, não vá a um criador, defina critérios estéticos, passe o cartão e vá embora com sua mercadoria. Primeiro olhe ao redor: pode haver algum filhote de cachorro ou gato precisando de um lar por perto. Há feiras e ongs que certamente indicarão vários tipos e personalidades de bichinhos. Ensine seus filhos que você é capaz de estender a mão a um ser-vivo que precisa e não resolve tudo na vida, apenas abrindo sua carteira.

Porque crianças aprendem com os adultos. Muito menos com as palavras proferidas e muito mais com os atos cotidianos. Enquanto pais, temos essa grande e árdua tarefa de melhorarmos dia após dia, simplesmente para sermos bons exemplos para esses pequenos, que crescem enquanto nos vêem agir.



 
 





quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Dia dos Animais

Hoje, dia 4 de outubro, é o dia de São Francisco, um homem grandioso, com uma vida exemplar, que entendia que animais são nossos irmãos.
 
 
 
Quando eu era criança e me desesperava em noites frias e chuvosas, pensando nos animais de rua, meu padastro tentava me confortar, dizendo que esses animais têm o bem mais precioso do mundo: a liberdade.
 
Isso não deixa de ser verdade. Quantos seres-humanos, podem dizer que são realmente livres? Somos algemados pelo sistema de tal forma, que a liberdade não passa de um sonho utópico.
 
Enquanto isso, os animais de rua têm o mundo a desbravar, sem responsabilidades, obrigações e rituais enfadonhos.
 
Nós (protetores e simpatizantes dos animais) tendemos a fragilizá-los mais do que o aceitável. Animais tem seus instintos e habilidades preservados. A maioria dá conta de viver sem a proteção humana. O problema é que a liberdade tem seu preço. E grande parte das pessoas que habitam esse planeta tem um prazer inexplicável de fazer o mal.
 
E isso numa visão otimista. Uma fêmea de médio porte costuma parir pelo menos 6 filhotes e frequentemente entre 8 e 10. O que elevaria bastante esses números expostos.
 
Animais de rua correm muito mais riscos. São atropelados e abandonados para morrer aos poucos. São torturados de diferentes formas, E como, na maioria dos casos, também não são castrados, contribuem cada vez mais para a superpopulação dessas espécies tidas como domésticas. Aliás, esse é outro grande problema. Cansei de separar briga de cachorro, por causa de uma fêmea no cio. Já vi cachorros extremamente debilitados por brigas assim, cachorros que ficaram cegos, tiveram infecção generalizada por causa dos ferimentos e muitas outras histórias tristes e chocantes.
 
Não me cansarei jamais de falar sobre a adoção. Comprar animais é confirmar que você acredita que possa possuir uma vida, que tem o direito de ser dono de um ser-vivo. E se for adotar, que seja por amor, genuíno, pelo prazer de cuidar de um ser-vivo, pelo prazer de dividir e compartilhar, de estar presente, de oferecer carinho, além de abrigo, comida, água e proteção.
 
Costumo divulgar a adoção, as feiras de adoção, as ongs e etc. Mas minha verdade é simples: acredito que quem ama verdadeiramente os animais, passa pela rua e não ignora um cão sarnento, machucado ou desnutrido e então adota um animal. Essas pessoas não querem "ter" um bichinho de estimação. Essas pessoas resgatam e salvam uma vida!!! Simplesmente.
 
Canso de ver animais adotados ou comprados, de raça ou SRD, vivendo em condições absurdas, proporcionadas pelo tutor que um dia resolveu o abrigar. Cachorros aprisionados em lugares mínimos, acorrentado dia e noite, sem água, entre suas próprias fezes, que não recebem carinho, nem atenção e tantas vezes, apenas surras frequentes.
 
O que me faz lembrar da frase do meu padastro. No final, os de rua, acabam tendo uma chance maior. Podem ir e vir, recebem carinho de pessoas como eu, que não ligam para pulgas, que tiram os carrapatos com a própria mão, que oferecem um pouco de comida e uma vasilha com água.
 
É por isso, que independentemente da situação do animal, dos animais, os de rua, os domésticos, os selvagens, ou mesmo os que vivem o holocausto da indústria alimentícia ou do entretenimento, os torturados pela ciência e pela estética, minha esperança é de que as pessoas acordem, saiam do pedestal que coloca os humanos numa posição acima de todo o resto do planeta e entendam que os animais são nossos irmãos e merecem condições decentes para viver, respeito e amor!
 
A castração é um ato de amor. Evita doenças, crias indesejadas, abandonos futuros e consequentemente maus tratos.
 
Seja consciente! Animais não vieram ao mundo para corresponder  as nossas expectativas, nem atender  aos nossos caprichos!!
 
Você não precisa amar todos os animais do mundo, mas tem a obrigação de respeitar cada um deles!!!

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Partido da Terra - como os políticos conquistam o território brasileiro

O livro Partido da Terra - como os políticos conquistam o território brasileiro, do jornalista Alceu Luís Castilho, esmiuça o histórico de apropriação e saqueamento das terras brasileiras pelos políticos brasileiros ao longo do tempo.



"... Mais que uma bancada, temos um sistema político ruralista..." diz o autor


Alguns dados relatados no livro:

PSDB e PMDB são os partidos com maior número de ruralistas entre seus representantes.
João Lyra tem 53.108 hectares de terra.
Newton Cardoso (ex-governador de Goiás) possui 1545 fazendas.
Blairo Maggi: 203 mil hectares.
Prefeitos que utilizam trabalho escravo.
Iris Rezende, enquanto ministro da Justiça permitiu que a Aracruz Celulose continuasse exaurindo 11 mil hectares de terras indígenas.
Kátia Abreu e suas mais de 3 mil cabeças de gado.
Jader Barbalho, Renan Calheiros e José Sarney são proprietários de terra, grileiros e estão envolvidos com a exploração de trabalho escravo.
Paulo Piau (relator do Código Florestal) recebeu mais de R$ 1 milhão da empresa Friboi.
 


Leitura Obrigatória! A utopia fica na esperança desse livro ser lido por estudantes de todo o Brasil. Em ano de eleição que é para ficar mais divertido. Lembrei, inclusive de um dos candidatos a prefeitura de Santos (litoral), Beto Mansur (PP) acusado de trabalho escravo. Enquanto ele se apóia nesse sistema falido da justiça, pode receber mais dinheiro para financiar sua campanha tão suja quanto a sua trajetória.
 
Lembrei também de Ronaldo Caiado, em discurso inflamado sobre as alterações do código florestal:
"Quantos brasileiros doam parte de seu patrimônio, para proteger o meio ambiente"?
Nós não temos patrimônio, querido Caiado. Vocês saquearam tudo!!!
 
 



Página do livro no facebook: https://www.facebook.com/#!/partidodaterraBR

O livro em outros blogs
Língua Ferina
Movimento dos Pequenos Agricultores
Blog do Sakamoto

Relacionados:
Moendo Gente: situação dos frigoríficos brasileiros
Repórter Brasil: combate ao trabalho escravo
Greenpeace: Desmatamento Zero

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

E que venha o futuro...

Hoje o assunto é educação. Mais que isso. Hoje o assunto é revolução.
 
 
 
Isadora Faber, aluna da sétima série de uma escola municipal em Florianópolis, teve uma idéia simples, porém eficiente.
 
Cansada de reivindicar direitos e não ser ouvida, cansada do descaso público, Isabela criou uma página no facebook, onde relata a situação de sua escola.
 
E para quem acha que essa nova geração é tão alienada quanto todas as outras e que não se faz revolução em frente ao computador, sugiro que acessem a página da garota, que já foi "curtida" por mais de 135 mil pessoas.
 
Isadora também foi manchete em vários veículos da mídia e já conta com o apoio da prefeitura. Até a diretora da unidade, admitiu a "fragilidade na administração", após a menina ter sido "contestada" pelos próprios funcionários. E até uma reunião entre a secretaria da educação e a direção da escola já foi agendada.
 
Que Isadora e seu Diário de Classe inspirem mais adolescentes, bem agora na época de eleição. E que para nós, marmanjos já criados, fique essa bela lição de cidadania...
 
E que venha a nova geração!




terça-feira, 17 de julho de 2012

Feira de Sementes e Mudas dos Quilombos do Vale do Ribeira



http://catarse.me/pt/projects/803-feira-de-sementes-e-mudas-dos-quilombos-do-vale-do-ribeira-sp#embed


O que é a Feira?
É uma iniciativa do Instituto Socioambiental – ISA em parceria com as associações das comunidades quilombolas, EAACONE- Entidade de Articulação das Associações das Comunidades Negras do Vale do Ribeira, FACQUIVAR- Federação das Associações das Comunidades Quilombolas do Vale do Ribeira, ITESP- Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo, FF- Fundação Florestal do Est. SP, USP-Leste e Prefeituras de Eldorado, Iporanga, Apiai, Itaóca e Registro.
A feira de trocas de sementes e mudas visa reforçar a importância da roça na manutenção da cultura quilombola do Vale do Ribeira para garantir a segurança alimentar das comunidades envolvidas. Este evento mobiliza as comunidades, a população da cidade de Eldorado -SP e os convidados, resultando em troca de sementes, mudas e outros produtos tradicionais. O trabalho agrícola é a principal atividade produtiva nos quilombos do Vale do Ribeira. Empenhados em produzir alimento para o sustento das famílias, homens e mulheres cultivam arroz, feijão, milho, mandioca, cana, banana e uma variedade de outros tubérculos, verduras, hortaliças e frutas. O reconhecimento da importância das roças para a subsistência e segurança alimentar das comunidades quilombolas é notório e recorrente. A atividade de cultivo supõe um conjunto de relações, saberes e práticas que, ancorados em valores compartilhados, serve de base para a organização sociocultural quilombola. A roça é o centro deste sistema agrícola e por isso, se decai, leva consigo uma série de outros aspectos caros à manutenção do patrimônio cultural das comunidades quilombolas.
Antecede a Feira um Seminário, que terá como tema o papel da roça na segurança alimentar e na cultura quilombola, prevê a participação de cerca de 100 pessoas, representando as 25 comunidades presentes, instituições parceiras, outras comunidades tradicionais e gestores públicos. Espera-se do conjunto de relatos dos quilombolas uma discussão a respeito da questão das roças, inserção dos jovens nas atividades tradicionais e políticas públicas de valorização e conservação das roças e sementes.

Data e Local:
Seminário – Data: 17/08/2012
Feira – Data: 18/08/2012
Local: Praça Nossa Senhora da Guia no município de Eldorado, Vale do Ribeira (SP)
Durante a feira grupos culturais vindos das comunidades se apresentarão.

Você sabe o que é uma comunidade quilombola?
É uma comunidade negra rural habitada por descendentes de africanos escravizados, com laços de parentesco, que vivem da agricultura de subsistência, em terra doada, comprada ou secularmente ocupada por seus antepassados, os quais mantêm suas tradições culturais e as vivenciam no presente, como suas histórias e seu código de ética, que são transmitidos oralmente de geração a geração.

Por que precisamos da sua doação?
Para garantir a realização da V Feira de Trocas de Sementes e Mudas e o Seminário de trocas de experiência.
Durante 4 anos a feira foi realizada e os resultados obtidos foram positivos no sentido de garantir a segurança alimentar dessas comunidades, dada a importância queremos dar continuidade e realizar a V edição da feira para isso precisamos de você!

Ajude a realizar este evento, faça a sua doação!
Confira o orçamento na aba atualizações!
Visite o nosso site: www.socioambiental.org 

domingo, 15 de julho de 2012

Árvores da minha infância - e da Mata Atlântica também -

São apenas quatro espécies, das quais três são bastante populares e ainda encontradas por São Paulo. A outra é a minha favorita, entre as quatros.

Jabuticabeira



Já falei dela aqui... Esta da foto, lembra muito bem a espécie da minha infância. Ficava assim num quintal, de uma casa no meio de São Paulo. Minhas lembranças incluem um avô sempre sereno, colhendo as frutinhas para minha irmã e para mim e umas dezenas de pássaros cantando em volta.

Pitangueira



A mais comum. Até hoje encontro pelas ruas do bairro onde morei em São Paulo. Havia um pé na escola onde estudei. E pude experimentar as frutas, pela primeira vez, colhidas no pé, antes de encontrá-las na feira.


Jerivá



Ou coquinhos, como chamei por toda a infância. Esses caíam aos montes, cobriam o chão, acertavam a cabeça e os exemplares eram muito altos...(ou talvez grandes demais para mim, que ainda era uma criança). Ao lado da minha casa há um pé altíssimo, onde vez ou outra aparece um gavião carijó para fazer ninho e afugentar qualquer roedor que aparecer pela redondeza...


E a mais querida:

Uvalha - uvaia -



Tive a sorte e o privilégio de estudar por 12 anos numa escola repleta de árvores, no pé da Serra da Cantareira, onde havia um pé de pitanga e outros tantos de jerivá, mas a minha preferida era a de uvaia.

O fruto é amarelo, aveludado e o gosto bem azedinho. Eu amava. Nas minhas recordações ela era muito maior e mais frondosa, do que nas descrições da espécie que tenho lido.

Lembro de ter levado algumas frutinhas para casa e, na hora, minha você reconhecê-las como uvalha - que eu entendi como ovalha, propaguei como ovalha e ouvi  de todo mundo que essa  fruta não existia. Hoje sei que minha avó estava certíssima, eu entendi errado e a maior parte das pessoas que ouvir o nome correto, ainda assim não vai saber do que se trata.

Vou redobrar minha atenção às árvores e espero muito encontrar essa espécie por aqui. Hoje ela vem sendo muito usada na recuperação de áreas degradadas e eu espero colher muitos frutos entre setembro e janeiro para cultivar várias mudinhas.

Colher essas frutinhas que possuem muito mais vitamina C do que as laranjas - que nem do Brasil são e normalmente são cultivadas em monocultura com muito agrotóxico - é um sonho que eu pretendo realizar.

Quando vou a feira não entendo como pode ser abundante a oferta de kiwi e morango, por exemplo, mas a gente não encontrar pitanga ou jabuticaba - em qualquer época do ano -.

A gente ainda não descobriu o verdadeiro sabor de cada estado, de cada região, de cada lugar...

Todas essas árvores são endêmicas da mata atlântica, o bioma que me cerca e que aprendi a respeitar e amar.



segunda-feira, 9 de julho de 2012

Portinho - Praia Grande

O Portinho é uma atração turística em Praia Grande, às margens do Mar Pequeno, repleto de árvores, próximo a Avenidade Ayrton Senna, onde fica o Portal de entrada da cidade.


Há dezenas de quiosques com churrasqueiras e um restaurante para o público. Como não sou nada fã de churrasco e prefiro a minha comida, não utilizo o espaço para botar fogo em carvão e tostar a carne. Fazemos pic nics, normalmente. No chão, embaixo de uma árvore. Ainda não conheci crianças que não gostem de passeios desse tipo.

Por lá também há um parquinho onde os pequenos podem se esbaldar. Além de um campo de futebol e a escolinha de remo e vela.

Há atividades de pesca e passeios de barco, por um preço que eu considero salgado.

Mas o motivo da postagem é o de divulgar o Museu da Mata Atlântica, sediado dentro do Portinho.

A entrada é gratuíta e há um estagiário em Biologia para acompanhar os visitantes e esclarecer dúvidas.

Além do Museu, funciona o Núcleo de Educação Ambiental, formado por profissionais que atuam nesse setor. Esse núcleo oferece cursos, também gratuitos, onde qualquer pessoa pode se inscrever. Dentre os cursos oferecidos estão os de horta em garrafa pet, artesanato com recicláveis, brinquedos com material reciclável, etc. Os cursos variam e é necessário ligar ou ir pessoalmente para se inscrever.

Também há um viveiro de mudas, onde o visitante pode descobrir, por exemplo, que o pé de alface, também floresce.

(As mudas não podem ser levadas pelos visitantes - infelizmente - são doadas apenas para trabalhos ligados a educação ambiental em escolas e/ ou outros projetos).

logo na entrada uma ilustração sobre a importância das árvores


para adoraradores da Mata Atlântic como eu

algumas espécies de cobras, encontradas pela polícia ambiental, pescadores ou turistas por diversos motivos
parte dos ossos de uma baleia, encontrada na praia, no final dos anos 80, que eu acompanhei a remoção na época, ao lado do meu avô.

carretel de fio repaginado numa das oficinas oferecidas



Endereço: Rua Paulo Sérgio Garcia, 18531 - Tude Bastos (Sítio do Campo)
Telefone do Núcleo de Educação Ambiental: (13) 3496-5357

domingo, 8 de julho de 2012

Compostagem II

Mais vida encontrada na compostagem...

Dessa vez as beterrabas resolveram dar o ar da graça

assim como as batatas

feijão ( e dessa vez sei que se trata do roxo)


pequeno pé de cuca, que minha filha pegou na rua para brincar, foi párar na compostagem e brotou


E a compostagem segue cheia de vida...


Desde que moro sozinha reciclo meu lixo, mas a compostagem só comecei a fazer certinha, há um ano. E durante todo este período o lixo que minha família, de 4 pessoas, produz, ficou reduzido a uma sacolinha plástica por semana. E o melhor de tudo é que acabo tendo um berçario de mudas variadas, sem nenhum trabalho.











sexta-feira, 29 de junho de 2012

"Amar o próximo é crime agora?"

A frase acima foi dita por Kaká Ferreira, presidente da ong Anjos da Noite, após  declaração feita pela Secretaria Municipal de Segurança Urbana, informando que a partir de agora, oferecer e /ou destribuir sopa nos bairros do centro de São Paulo aos moradores de rua pode virar crime.



A ong Anjos da Noite realiza esse trabalho há mais de 20 anos.

Kassab é arbitrário e descompensado, mas essa iniciativa foi longe demais. 

A prefeitura alega que a iniciativa dessas pessoas, que estão simplesmente alimentando quem tem fome, suja demais as ruas de São Paulo. Também querem que esses moradores de rua, sejam encaminhados as tendas específicas oferecidas pela própria prefeitura onde eles podem sentar e comer com maior dignidade do que no meio da rua.

Não enxergo concorrência e não acredito que as ongs devam parar de auxiliar essas pessoas porque agora a prefeitura tem um serviço um pouco melhor organizado (que eu sinceramente duvido que daria conta de atender a todos os moradores de rua da cidade de São Paulo).

A maior parte dos moradores de rua não quer virar estatística de municípios e normalmente nega as oportunidades oferecidas pelo poder público. Eles têm os seus motivos. Da mesma forma nunca vi nenhuma dessas pessoas recusar a comida quente, na noite fria, trazida por trabalhadores voluntários.

Estamos acostumados a ver o Estado virar as costas para os indivíduos. E também já nos acostumamos a ver pessoas trabalharem pelo bem comum.

Que o poder público comece a se preocupar com o que está realmente errado e deixe livre quem está fazendo o bem.

Imagem do Rio Titê - há décadas necessitando de iniciativas públicas -


E que bom seria se todo o lixo da imunda metrópole paulistana se resumisse as garrafas plásticas utilizadas para distribuir sopa na madrugada!



Notícia divulgada pelo Jornal da Tarde, clique aqui.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Rio...+ 20 anos de espera?

grafite de Thiago Mundano
Quem já circulou por esse blog sabe da minha desesperança quando o assunto são conferências sobre meio ambiente. Políticas, documentos, discursos...muita teoria e normalmente NENHUMA prática.
Moro no litoral de São Paulo e mesmo que quisesse não poderia ir até o Rio de Janeiro dedicar meus dias inteiros a debates e discussões. Gostaria sim de ouvir seres-humanos comuns e suas histórias de lutas e progressos ambientais e sociais. Gostaria de ter ouvido Frei Betto, Leonardo Boff e principalmente Vandana Shiva, que na minha modesta e distante opinião foi um show a parte nessa Rio + 20.

"Não concordo que o Brasil seja um grande produtor de alimentos para o mundo. O Brasil é um grande produtor de cana-de-açucar, que vira álcool. É um grande produtor de soja, que alimenta o gado europeu. O Brasil é um grande produtor de commodities. E commodities vão para o mercado. Não vão para os famintos!"

Vandana Shiva



Agora, imagino que para os participantes da Rio + 20, o discurso de  Dilma Roussef tenha sido um tanto quanto revoltante eu presto atenção no que eles dizem, mas eles não dizem nada. Porque no Rio de Janeiro ela foi favorável ao desenvolvimento sustentável, a frear o consumismo...(aquilo era o quê? Uma outra personalidade, das múltiplas que ela deve ter para enganar cada povo e governo de cada país que visita?).

Chegando em Brasília desenvolvimento sustentável para ela é apoiar o agroegócio e permitir a alteração de um código florestal, já muito pouco respeitado. Eficiência energética ela resolve construindo megas hidrelétricas, termoelétricas, usinas nuclear e com o imponente projeto do pré-sal. E diminui o consumismo, reduzindo IPI de automóvel.



Quanta discrepância, hipocrisia e demagogia, reunidas num discurso só. E eu devo ter esperanças??? O que foi feito desde 1992, quando eu ainda era uma criança e não sabia que por culpa dos países mais ricos os pobres pagavam com suas vidas e a natureza se esvaia com cada decisão tomada pelos homens mais poderosos do mundo.

Da Rio + 20 fico com todas as palavras proferidas por Vandana Shiva, física, ambientalista atuante que só falou verdades e que assim como eu também não acredita nesse tipo de conferência, mas sim na sociedade organizada, unida e disposta a fazer um futuro melhor. Futuro esse que eu acredito que começamos a mudar, quando destapamos os olhos para enxergar as verdades.

Manifestação no Rio de Janeiro, durante a Rio + 20, quase não divulgada pela mídia.

" A indústria do petróleo e o agronegócio encontraram na economia verde uma maneira de defender seus próprios interesses, subvertendo o conceito. Infelizmente, governos do mundo emergente ainda não perceberam que economia verde não se trata de tecnologia e sua transferência, e sim da exploração de recursos naturais. Trata-se de um modelo aparentemente sustentável que fará com que os governos percam cada vez mais controle sobre seus recursos naturais, entregando-os nas mãos das grandes corporações"

"Sustentabilidades e justiça social são inseparáveis, não teremos uma sem outra. Quando pensamos em injustiça, pensamos nas pessoas que não têm comida, água, terra. Tudo o que lhes falta vem da natureza. Sem sustentabilidade, não teremos justiça social. Sistemas de exploração, tais como os modelos de agronegócio, são insustentáveis em termos de exploração de recursos naturais e são injustos,  privar as pessoas de direitos fundamentais como comida e água."

Vandana Shiva (mais uma vez)







Trechos de uma entrevista que ela deu para O Globo, clique aqui para ler na íntegra.
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...