"Vivo da floresta, protejo ela de todo o jeito, por isso vivo com a bala na cabeça a qualquer hora, porque vou para cima, eu denuncio. Quando vejo uma árvore em cima do caminhão indo para uma serraria me dá uma dor. É como o cortejo fúnebre levando o ente mais querido que você tem, porque isso é vida para mim que vivo na floresta e para vocês também que vivem nos centros urbanos."

Zé Claudio, assassinado em maio de 2011.



terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

A massa que ninguém vê: CATADORES

Todos os dias eles estão por entre os carros, por todas as ruas, na chuva fina ou no sol forte, puxando um carrinho abarrotado. Todos os dias eles trabalham limpando o que você sujou. Eles fazem esse trabalho silencioso, revirando o seu lixo, desvendando o quão impactante é o seu consumo cotidiano.

Eles estão espalhados, trabalham sozinhos ou acompanhados; mulheres, homens, velhos ou crianças; eles são a população da heterogênia. Não há fracos, não há fortes, há pessoas sobrevivendo do seu lixo.


O lixo que você descarta, sem se importar aonde vai parar. O lixo dos aterros, das calçadas dos escritórios, dos latões, do meio da rua. O lixo que iria entupir mais bueiros, contaminar os solos, chegar ao oceano e assassinar espécies. O seu lixo de cada dia é o ganha pão do dia deles.

O lixo que ninguém quer mexer, que todo mundo reclama, que as autoridades escondem por baixo dos tapetes...todo esse lixo são eles que recolhem. Eles são quem o mundo sentenciou: catadores. Uma legião de seres-humanos fazendo o trabalho que ninguém quer fazer e sem o mínimo reconhecimento por isso.

Homens sem nome nem sobrenome, sem registro na carteira e passaporte para a cidadania. São eles: homens e mulheres de todas as idades que mostram ao mundo o que o mundo não quer ver: o seu lixo é reciclável, é viável economicamente; gera renda, ofício, sustenta famílias.

O seu lixo, que você insiste em misturar : bituca de cigarro com garrafa pet, embalagem de sorvete e restos de comida que você deixou apodrecer, sobra para eles. São eles que tocam na sua sujeira de cidadão civilizado, incapaz de lavar, separar e reciclar os  restos do seu próprio consumo.

Você não é capaz disso! Mas eles são capazes de muito mais! São os verdadeiros agentes ambientais não remunerados pelo governo, explorados pelos sucateiros, ignorados pela outra massa dentro de suas máquinas poluidoras.

Eles estão diminuindo o impacto do consumo da sua família e da família dos seus vizinhos. É você que tem que dizer obrigado, sempre que alguém recolher os recicláveis que você ia jogar fora junto com seu lixo. Não eles!

Pensem nisso!

Uma observação de extrema importância: Imprenscindível dizer que os catadores, os quais eu menciono e defendo nesta postagem, não são os mesmos que utilizam cavalos em sua jornada de trabalho. Homens de verdade trabalham com seu suor e força e não utilizam animal nenhum, numa exploração que minimiza seus esforços. Animais não estão aqui para nos servirem e nenhuma exclusão social e dificuldade financeira, por mais extrema que seja, justifica maus tratos, inanição e escravidão. Esses cavalos explorados pelos homens chegam a ter seus olhos vazados pelas chicotadas que invariavelmente recebem de seus algozes. E isso, além de inaceitável é  um crime! E criminosos devem ser penalizados.


Essa é uma realidade com qual não compactuo, nem aceito jamais. É uma realidade que eu repudio!

Leia mais: Eco-heróis por Nayana Ferreira


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