"Vivo da floresta, protejo ela de todo o jeito, por isso vivo com a bala na cabeça a qualquer hora, porque vou para cima, eu denuncio. Quando vejo uma árvore em cima do caminhão indo para uma serraria me dá uma dor. É como o cortejo fúnebre levando o ente mais querido que você tem, porque isso é vida para mim que vivo na floresta e para vocês também que vivem nos centros urbanos."

Zé Claudio, assassinado em maio de 2011.



terça-feira, 9 de novembro de 2010

Os bettas

Minha familia foi "presenteada" com um exemplar da espécie betta, esses peixinhos com fama de briguentos, vendidos em claustofóbicos aquários em todo e qualquer pet shop. Nunca fui muito fã nem de aquários, muito menos de gaiolas, acho que são a maior representação do egoísmo humano. Mas enfim...o peixe veio parar nas minhas mãos e decidi pesquisar mais sobre a criatura, numa tentativa de maximizar seu bem-estar, principalmente no que diz respeito ao tamanho do aquário...



Muitas barbaridades lidas e ouvidas depois, descobri que este peixinho tem origem no sudoeste asiático e pode ser encontrado até hoje próximo as plantações de arroz desta região, o ambiente ideal para uma espécie que não depende apenas de suas brânquias para respirar. Este peixinho possue um orgão chamado de labirinto que captura o oxigênio da atmosfera (sim, ele precisa de ar, tanto quanto nós), por isso águas estagnadas e sem muita oxigenação são perfeitas para ele.

Esta caractérística foi decisiva para que se iniciasse sua comercialização. É um peixe que sobrevive em condições mínimas e não exige grandes cuidados.

A maior inverdade contada pelo ser-humano, que lucra com o sofrimento dos animais, é defender que em seu habitat ele viveria em poças d'água. Essa idéia é uma farsa. O ambiente ideal para ele são áreas alagadas, que de fato não são muito profundas, mas certamente se estendem muito mais do que qualquer aquário ridículo vendido pelos escravocratas de animais. Além do mais na natureza, eles podem saltar - por isso muitos pulam de seus aquários e os donos não entendem o porquê - para outras poças livremente, o que jamais poderão fazer em seus aquários.

Os machos da espécie não toleram invasões de outros machos em seu espaço e expulsam as fêmeas logo depois de fertilizarem seus ovos. Essa agressividade que os rotula de briguentos nada mais é do que pura vocação paterna. Mas serve também para entreter seres-humanos de duvidosa evolução, que os colocam em duplas em aquários para que briguem mesmo até se matarem.

Ele também é um peixinho carnívoro e larvófago, mas em aquários são alimentados com rações específicas com muita proteína. A alimentação certamente foi o ítem com maior discrepância na minha pesquisa na internet. As indicações variaram entre três vezes ao dia ou até a cada três dias.

Quanto a limpeza do aquário as indicações também variaram muito. Mas fica óbvio que água sem oxigênio não representa água suja. Importante também saber que este peixinho gosta do ambiente constante, ou seja, água sempre na mesma temperatura e PH. Portanto é importante que a água esteja limpa, mas trocar a água com muita frequência certamente prejudicará o peixe. Para esse quesito o bom-senso deve prevalecer mais do que uma rotina pré-estabelecidade, no meu ponto de vista.

Essa limpeza deve ser feita sempre deixando um pouco da água que já está no aquário misturada com a limpa, isso facilita a manutenção da temperatura e PH. Recomenda-se também que a água que irá substituir a suja no aquário seja do chuveiro ou fique por 24 horas "descansando", isso serve para eliminar o cloro.

Alguns outros cuidados foram sugeridos, a maioria dispensável demais ao meu ver, marketing para pet shop, invenções mercadológicas e afins.

No meu caso optei por uma aquário maior do que aqueles mínimos vendidos nos pet shops. Como este peixinho necessita subir a superfície toda vez que coloca o labirinto para funcionar, acatei a recomendação da querida @tatilula, bióloga e defensora dos animais, e colquei pedras de cachoeira estrategicamente posicionadas para que ele tenha diferentes níveis de apoio e esconderijos casuais.
Enfim, quis dividir estas informações com vocês, mas gostaria de focar alguns pontos:

Continuo não concordando com o comércio de animais, no que depender de mim, eles vão a falência.

Pensamos em animais, e principalmente em peixes, como decoração, enfeite, objeto...mas são seres-vivos, merecedores de condições mínimas de sobrevivência.

O comércio de animais rotula espécies e raças indicando-as para cada tipo de humano e estilo de vida, como se fossem shampoos para cabelos. Quanta verdade há nisso?

Quantos são os animais vitimados pelo comércio legal ou ilegal?

Quanto realmente precisamos disso?

A vida não deveria ser banal, nem quando se trata de um animal.

Ouvi bizarrices sobre estes pobres peixinhos porque a maioria das pessoas que os compra não sabe nada a respeito deles. Cuida deles com a receita dada pelo vendedor do pet shop, sem entender o que ele precisa, nem sua forma de viver.

E o peixinho continua lá...circulando em seu aquário mínimo...no centro da sala de jantar.

...mas as pessoas na sala de jantar... são ocupadas em nascer...e morrer...

apenas nisso!

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