O juçai nada mais é que a polpa dos frutos da palmeira juçara (Euterpe edulis Martius), típica das regiões da mata atlântica, ameaçada de extinção, pela extração insustentável do palmito.
O que a grande maioria ainda não sabe, mas o que já garante o sustento de uma pequenina minoria, é que felizmente essa polpa vale mais que o palmito, portanto a árvore em pé garante uma renda maior do que ela morta, após a extração do palmito.
As Palmeiras Juçara demoram cerca de oito anos (pode chegar a 12) para alcançar a fase adulta, quando começam a produzir tanto o fruto, quanto o palmito.
Quem já experimentou garante que o juçai é ainda mais saboroso que o açai, além de, evidentemente, mais sustentável para o povo do sul, já que estaríamos consumindo um produto nativo de nossa região, que não percorrerá grandes distâncias para chegar no nosso prato.
O juçai têm o mesmo valor calórico que o açai, mas ganha em valores nutricionais. Possui 70% de ferro e 63% de potássio a mais do que o seu semelhante: o açai. Os níveis de antocianina (a coloração roxa dos alimentos indica a presença desta substância que age como antioxidante, anti-inflamatório, inibie a oxidação do colesterol LDL e diminue os riscos de doenças cardiovasculares e de câncer) são quatro vezes maiores no juçai.
Palmeira em pé...mais dinheiro no bolso
Um tolete de palmito, com cerca de 70 cm, vale para quem extrai míseros R$ 4,00 e implicam no sacrifício de uma árvore que levou 8 anos para crescer. Enquanto que com a venda da polpa do fruto o agricultor chega a ganhar até R$ 26,00.
Fica claro que a árvore em pé é muito mais negócio.
Os frutos são retirados por habilidosos nativos - já que essa produção acontece na mata atlântica e emprega jovens locais que garantem a manutenção florestal e seu sustento - que sobem até o cacho de frutos, com o auxílio do que chamam de "peconha" e retiram cuidadosamente o cacho sem perder sequer uma semente.
No processo que transforma o fruto em polpa, as sementes são deixadas de molho em temperatura de 30º, para que não mate o embrião da semente, posteriormente são colacadas em uma máquina que extrai a fina película roxa que envolve a semente. A película vira a polpa e a semente é usada em novo plantio. Até a água utilizada no despolpamento pode ser reaproveitada no banho, porquê contém um óleo, liberado pelo fruto, considerado excelente hidratante.
O IPEMA (Instituto de Permacultura e Ecovilas da Mata Atlântica) desenvole um trabalho, monitorado pelo Ministério do Meio Ambiente, onde cinco comunidades quilombolas já cultivam as palmeiras juçara e vendem a sua polpa. Conservando a floresta, garantem seu sustento financeiro e certamente no planeta.
Uma frase que traduz a realidade do que isto significa, no ano da biodiversidade, mas no país que só enxerga o pré-sal, é de autoria de coordenador técnico de Associação do Quilombo do Campinho Fábio Reis:
"Se esses jovens não tivessem a oportunidade de se capacitar, o que estariam fazendo? Eles não precisam aumentar as demandas de subemprego nas cidades, porque têm a riqueza em suas próprias comunidades. Buscamos, com isso, a formação de novos líderes comunitários e a valorização da cultura nos quilombos. São valores que não são enfatizados nas escolas. Assim, eles passam a entender que podem ser gestores do ambiente em que vivem, aprendendo a lidar com a terra, valorizando os atrativos turísticos e culturais de seu povo."
E como o homem, não costuma se preocupar com os animais, nem quando planeja um manejo sustentável dos recursos do planeta, a natureza, sempre sábia, dá o seu jeito. Os muitos animais que também se alimentam dos frutos da palmeira juçara, e muito mais que nós, garantem também o reflorestamento, como os tucanos, periquitos, sabiás, tiribas, capivaras, entre outros, podem se alimentar dos frutos que não são extraídos pelos homens por diferentes motivos. Palmeiras muito finas, tortas e com parasitas não entram no esquema agroecológico, assim como os frutos que não amadurecem no devido tempo...nestes casos o alimento é todo dos animais.
Mas que fique claro...por mais que o homem se considre soberano e sejam os nativos, conhecedores da mata, que extraem os frutos...são os animais,de fato, os verdadeiros agentes florestais! Quanto mais animais...mais comida! Para todos nós!
A agroecologia é um caminho certo e óbvio. Não é porque a nossa agricultura escolheu copiar os modelos europeus e fazer isso por décadas, que este esquema está certo. Há muito o que se aprender...e o simples observar da natureza pode nos trazer muitas respostas.
Podemos extrair sim! O que não podemos é dizimar!
E eu que considerava o açai extremamente sustentável e principalmente saborosissimo...vou me render ao juçai. Assim o povo do norte garante a preservação da Amazônia...e nós, aqui da região sudeste, tentamos recuperar o que sobrou da Mata Atlântica, tão exuberante e importante quanto os demais biomas e avassaladoramente mais aniquilada.
Referências: Espaço do Produtor
Biodiversity Reporting Award
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